E o leitor, como fica? Parte final
Finalmente, eis aqui a última parte desta “novela” sobre a dramática relação (nem sempre amigável) entre editoras/leitores. Antes de mais nada, desculpem-me pela demora no envio desta última parte do artigo.
Bem, só para relembrar algum possível atrapalhado de plantão, esta matéria trata de um dos momentos mais frustantes para um leitor/colecionador de revistas de histórias em quadrinhos, o cancelamento de um determinado título. Para quem está lendo pela primeira vez minhas palavras, as 3 primeiras partes deste artigo também encontram-se a disposição aqui, na Zona Livre.
Anteriormente, eu havia prometido discutir sobre qual seria uma das possíveis respostas a serem dadas quando uma editora cancela, sem mais nem menos, um determinado título que vínhamos colecionando. Foi pensado na possibilidade de se boicotar todo e qualquer outro lançamento que a editora viesse a fazer, mas essa idéia foi logo descartada (afinal, podemos viver sem nossas HQs?). Também se comentou que uma grande parcela de culpa por uma revista ser cancelada é dos próprios leitores (ainda mais quando trata-se de um projeto de HQs brasileiras). Mas então, o que fazer?!
Antes, gostaria de dizer que a sugestão que deixarei registrada aqui “procês”, foi a resposta que EU encontrei para livrar-me dessa situação de “dependência” das editoras. Na verdade, hoje em dia, estou quase que, com a licença de usar uma expressão popular bastante vulgar, “cagando e andando” para o que as editoras profissionais farão ou deixarão de fazer com as revistas que venho colecionando. Enquanto estiverem nas bancas, tô comprando… Nem por causa do Spawn, que tenho toda coleção, fico me preocupando mais: “Será que a Abril vai deixar de publicá-lo, como fez com tantos outros heróis que eu vinha fielmente acompanhando?” Como diz na música, “tô nem aí”! Hoje em dia, só sofro quando trata-se do cancelamento de um projeto brasileiro, aí sim…
E sabem como consegui esta certa “invulnerabilidade” quanto ao comportamento não raras vezes desrespeitoso das grande editoras profissionais para conosco? Simples! Resolvi fazer minha própria publicação de HQ. É isso mesmo, passei a editar o meu próprio FANZINE (por descargo de consciência vou explicar o que é isso: fanzine é toda e qualquer publicação alternativa e independente feita por um fã de algum assunto, no nosso caso, as histórias em quadrinhos. Existem muitas maneiras de se publicar ou reproduzir um fanzine, mas o meio mais utilizado é o bom e velho xerox). Em primeiro lugar, resolvi ministrar um curso de HQ (sou Arte Educador e Jornalista Ilustrador) em parceria com um ótimo quadrinhista, o Law Tissot. Criamos assim o TOP COMICS, nosso selo, estúdio e curso de HQ. Formamos uma quantidade razoável de novos quadrinhistas amadores e selecionamos os que mais se destacaram para publicarem numa revistinha que nós mesmos publicaríamos. Foi assim que nasceu a AREIA HOSTIL.
Nossa idéia inicial para a Areia Hostil, era de lançarmos uma edição por ano mas o primeiro número deu tão certo (pelo menos, a aceitação foi bem melhor do que esperávamos e as vendas foram razoavelmente boas nas bancas da cidade) que a segunda edição foi lançada na Câmara de Vereadores da nossa cidade (Rio Grande / RS). Optamos então por tornar sua periodicidade semestral. Já estamos lançando o quinto número (janeiro de 2003) e já sentimos a necessidade de diminuir ainda mais o intervalo entre as edições. É importante lembrar a todos que tentarem fazer o mesmo para não esperarem um bom resultado logo na primeira tentativa – é bem melhor esperar pouco e se surpreender do que fazer grandes expectativas e se decepcionar – e é claro, começar de baixo, aos poucos. De nada adianta lançar um primeiro número todo cheio de frescura, tipo capinha colorida impressa em offset, miolo em papel couchet brilhoso, coisa e tal e não ter condições de publicar o segundo número. Geralmente é isso que acontece…
Usando mais uma vez o meu exemplo até então feliz com a Areia Hostil, começamos bem humildes: Capa em papel sulfite 180 gramas (cartolina), impressão colorida (porém em serigrafia) e o miolo impresso em papel jornal (é claro que em P&B) em sistema risograph (este tipo de impressão é mais conhecida aqui no Rio Grande do Sul). Aos poucos fomos podendo melhorar algumas coisinhas, tipo: aumentar o número de páginas do miolo, além de imprimi-lo em um papel de qualidade um pouco melhor, o sulfite branco (esses, das folhas de ofício). Iniciamos publicando apenas histórias minhas, do meu sócio e dos alunos que havíamos formado; hoje, quadrinhistas e estudiosos do assunto das mais diferentes regiões do Brasil estão publicando na Areia Hostil, como é o caso do Vagner Francisco (Cambé / PR), Edgar Franco (Poços das Caldas / MG), Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro (São Paulo / SP) e o veterano Emir Ribeiro (João Pessoa / PB), além dos muitos que estão mostrando vontade de colaborar. No início, o limite da nossa publicação era apenas nossa cidade, hoje vendemos para muitas outras cidades, por meio de encomendas via e-mail ou cartas.
Enfim, acho que essa é a melhor resposta que podemos dar para as editoras: não depender mais delas para continuarmos nos divertindo com as histórias em quadrinhos! O resultado, como vocês estão podendo ver, acabou dando tão certo que a coisa cresceu tanto que as poucas páginas de um fanzine impresso já não eram mais suficientes e, aqui estamos nós…
Bueno, minha gente, vou ficando por aqui, agora é com vocês! Viva o quadrinho nacional! Viva a Areia Hostil! Viva nós!
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