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Areia Hostil entrevista Eduardo Menna

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Eduardo (ou simplesmente Edu) Menna, nasceu em Rio Grande há 37 anos atrás, é casado e pai de uma filha linda chamada Vanessa.

Trabalhou no Brasil com ilustração e design gráfico (em Rio Grande / RS, foi chargista do Jornal Agora). Já morou em Florianópolis, Balneário Camboriú e Curitiba. Quando mudou-se para São Paulo, conheceu sua atual esposa, onde morou por dois anos. Como sua mulher é filha de japoneses, isso os possibilita trabalhar no Japão, e é o que estão fazendo já há dois anos, tentando juntar logo o dinheiro para a compra da casa própria e voltar para o Brasil, onde Menna pretende voltar a trabalhar em sua área.

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Areia Hostil: Como os quadrinhos entraram na tua vida?

Edu Menna: Gosto de desenho e de HQs desde que me conheço por gente. As HQs são uma forma de arte das mais fascinantes, pois possibilita ao artista desenhar de tudo e ainda poder criar seus próprios mundos e personagens. As primeiras HQs que lembro de ter lido são os super-heróis da EBAL. Depois teve uma fase em que lia bastante Tex e ficava tentando desenhar cavalos e revólveres o tempo todo.

AH: Como você descobriu os quadrinhos nacionais?

EM: Descobri os quadrinhos nacionais através das revistas da GRAFIPAR. Watson, Mozart, Shima, Colin, passaram a ser meus mestres naquela época. Depois vieram as revistas de terror da VECCHI e da D-ARTE, tudo isso na década de oitenta. Nessa época conheci o Law e o Marco Müller e sonhávamos em poder trabalhar com isso.

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AH: Quais os autores de HQ que você mais gosta e por quê?

EM: Eu gosto de muita gente. Tem desenhistas ótimos em todo o tipo de HQ, seja no estilo de super-heróis, mangá, ou nos álbuns europeus. Vou citar alguns, mas são apenas uma pequena parte: 

No Brasil, os mestres Mozart Couto, Shima, Watson, Seabra, Mike Deodato, Ed Benes, Luke Ross.

Dos americanos eu gosto do Jim Lee, Alex Ross, Frank Quitely, David Finch.

Gosto ainda de Katsuhiro Otomo, Horácio Altuna e Moebius.

Os desenhistas que mais gosto são sempre aqueles que tem um estilo mais realista, com anatomia bem feita, com sombras bem colocadas, ou no caso de artistas com estilo “linha clara”, a riqueza de detalhes.

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AH: Como é seu processo de desenho?

EM: Faço dois pequenos lay-outs de cada página e escolho a que mais agradar para usar como guia. Então vou procurar referências na Internet ou em filmes. Depois faço o esboço em papel sulfite comum. Nesta etapa, não me preocupo muito em usar borracha ou régua. Este esboço fica bem rabiscado. Em seguida limpo o desenho em uma pequena mesa de luz, em um papel mais encorpado. A arte-final é feita com canetas descartáveis, imitando o traçado do pincel.

AH: Já que você está no Japão, como você vê a indústria de mangá?

EM: Acho incrível a quantidade de títulos que tem por aqui. As estantes das livrarias são abarrotadas de mangás, e tem sempre lançamentos saindo. Claro que no meio de toda esta produção tem muitas coisas boas, mas também tem muito lixo.

O que eu acho mais legal é ver que os mangás são parte da cultura do Japão. Você vê gente de todas as idades lendo mangá. Poder ser no trem, no carro, em qualquer lugar… No Brasil, qualquer um com HQs nas mãos que tenha mais de 15 anos de idade, é olhado com desconfiança, como se aquilo fosse algo “proibido para maiores”.

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AH: O que é mais importante: um roteiro eficiente ou um desenho perfeito?

EM: Acho que a união dos dois. Eu lembro de ter lido HQs com argumentos incríveis na revista do Ken Parker, mas com desenhos sofríveis. Por outro lado, tem revistas com desenhos maravilhosos que não dá vontade de ler duas páginas. Apesar de que – eu confesso – o que me atrai mesmo em HQ é o desenho.

AH: Os quadrinhos funcionam melhor preto-e-branco ou apenas em cores?

EM: Eu adoro quadrinho em P&B. Acho que dá para visualizar melhor o trabalho do artista. Têm trabalhos muito bons feitos com cor, como a HQ “300” do Frank Miller, mas no geral eu vejo é muito efeito desnecessário, e as vezes cores “quentes” em excesso.

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AH: Quais os principais problemas da produção e aceitação dos  quadrinhos nacionais?

EM: Acho que qualquer produto de qualidade vende, seja HQ, DVD ou game. Acho que tem muito a questão cultural, como citei antes. A maioria das pessoas pensa que HQ é coisa de criança, e estamos acostumados a achar que tudo de fora é melhor. Os editores pensam no lucro das empresas (como não poderia deixar de ser) e vão preferir publicar personagens conhecidos, que tenham retorno certo. Acho que esses são os dois problemas principais. Antes diziam que no Brasil não havia artistas e escritores de qualidade, por isso as revistas não duravam. Já foi provado há muito tempo que isso não é verdade.

AH: Como é a tua vida no Japão?

EM: Eu trabalho 10 horas por dia, inclusive aos sábados e chego em casa bem cansado. Ainda tenho que dar um pouco de atenção a minha família, jantar, etc… O tempo para lazer e coisas pessoais é bem curto. Estou produzindo uma HQ da Cidade Cyber em parceria com meu amigo Law Tissot que terá 3 partes com 6 páginas cada, e ainda não consegui terminar a primeira parte por falta de tempo, mesmo. Mas pretendo entregar esta parte em breve (espero)…

AH: O que você pensa da produção independente do Brasil (tomando a próprio Areia Hostil como exemplo)?

EM: Acho sensacional! Quando se faz às coisas com paixão você colhe os frutos, mesmo se demorar um pouco. É ótimo ver autores novos surgindo, leitores novos surgindo, o quadrinho nacional sendo divulgado e reconhecido. Parabéns pelo trabalho de vocês!

Quem quiser manter contato meu e-mail é:  eduardomenna@bol.com.br .

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