Se tem uma coisa que quem vive no meio artístico sabe é que “fanzine não dá dinheiro“! Mas… será mesmo?!

    Ah, claro! Que estupidez a minha! Pode acontecer que você esteja visitando o nosso site pela primeira vez, ou mesmo que não tenha tanta intimidade com o que acontece no cenário das histórias em quadrinhos alternativas e, por isso mesmo, nunca tenha lido ou escutado a expressão “fanzine”… Então, deixa eu explicar rapidamente o que significa isso: Fanzine é uma palavra que se origina da contração de duas outras, fã + magazine, ou seja, o termo significa literalmente “revista do fã” (também pode ser chamada simplesmente de “zine”, por quem já é mais íntimo do assunto). São aquelas publicações feitas por pessoas que gostam de determinados assuntos como poesia, música, quadrinhos e etc e que, num certo momento resolvem colocar no papel suas próprias idéias a respeito. Geralmente reproduzidos em máquinas fotocopiadoras (xerox mesmo!), grampeadas e distribuídas ou vendidas entre amigos e conhecidos.

    Agora que tá tudo devidamente explicado, voltemos à questão financeira sugerida no título deste artigo: fanzine dá ou não dá dinheiro? A minha resposta é uma só, e a dou com toda certeza: Dá!!! 

    Tá certo… a coisa pode até não dar muuuuuito lucro pro cara que faz o fanzine (chamado de “fanzineiro” ou “zineiros”), mas há sim quem chega até a ganhar alguma graninha com este tipo de produto. Mas é claro que estes são muito raros e geralmente, o maior retorno acaba sendo a satisfação de produzir seu próprio material, de se chegar ao leitor. É muito mais comum o fanzineiro até perder dinheiro ou, em melhores situações, pelo menos conseguir de volta o valor que ele gastou com a reprodução do material!

    Mas é claro que, de propósito, usei o verbo “dar“, ao invés de “gerar“, no início deste texto visto que é quase sempre o primeiro que usamos na hora da velha sentença: “fanzine não dá dinheiro”. Mas olha como a coisa toda muda quando empregamos o verbo certo! Para isso, vamos começar tudo de novo, lá pelo título:

Quem disse que fanzine não gera dinheiro?

    Ahá! Agora sim!!! E a partir deste pequeno detalhe toda a maneira de se ver os fanzines muda de forma radical! Até então, o fanzineiro podia ser visto como um cara burro ou louco, que gostava de jogar dinheiro fora, reproduzindo uma material que ele mesmo teima em produzir e que seria tão pouco lido. Qual zineiro já não foi mal atendido numa casa de xerox? Claro que, em certos casos, por culpa da  baixa estima do próprio zineiro! Parece que o cara tá entrando na loja pra pedir um favor: “Será que vocês poderiam tirar uns xerox pra mim?”! Quando na verdade a coisa é justamente o oposto! O editor de fanzine é um cliente muito bom, que vai gerar muito mais dinheiro que aquele outro que só entra na loja uma vez lá que outra, pra fazer uma cópia de um documento! E se for bem atendido, se a qualidade da cópia for boa, vai voltar muitas outras vezes!

    E tem mais: além da grana que fica nas casas de cópias, tem também a compra de materiais de desenho (lápis, caneta, tintas, papéis) e envelopes. E tem ainda a questão da distribuição, que produz uma boa movimentação postal nos correios!

   Levando tudo isso em conta, se a maneira como os comerciários vêem os fanzineiros não muda por conta própria, cabe a nós (me incluo, já que sou um fanzineiro, e com o maior orgulho!) mudá-la, exigindo o devido respeito de cliente especial!

    Com a gente, da Areia Hostil, é assim: gostamos de ser bem atendidos, não estamos pedindo nenhum favor, pagamos por nossas impressões, temos nossos patrocinadores que também acreditam em nós e, se não puderem nos dar um bom atendimento (e nem precisa oferecer cafezinho), procuramos outra gráfica que possa! Inclusive já fizemos isso com uma que demorou a nos repassar o orçamento, certa vez!

   Se também és um zineiro, que tal fazer o mesmo? Também podes! És um artista! És um idealista! És um produtor cultural! Mas, acima de tudo, és um cliente que vai gerar dinheiro!!!

   Viu?! Agora me responde: quem disse que fanzine não dá dinheiro?