E
nasce
uma nova editora brasileira
Por Lorde
Lobo (24/12/03)
Recentemente andava circulando pela internet, uma mensagem
falando sobre alguém interessado em criar uma nova editora. E mais: Que estavam
abrindo espaço pra os artistas brasileiros! Como não poderia ser diferente,
tal e-mail acabou caindo em uma de nossas caixas de mensagens e fomos conferir o
que tava rolando. O nome por trás disso é Daniel Vardi, que nos
concedeu uma entrevista em primeira mão! Confira:
Areia Hostil: Antes de qualquer coisa,
precisamos te conhecer! Fala um pouco de ti.
Daniel Vardi: Meu nome é Daniel Dominique Vardi, nasci em 13
/ 08 / 1972, em São Paulo.
Sou o criador da Editora
Vardi, empresa que montei
após 8 anos de experiência na área editorial. Trabalhei como ilustrador,
designer, jornalista e editor para diversas empresas até perceber que não
existia no Brasil uma companhia com o meu perfil.
Ao lado, Daniel Vardi
caricaturado |
|
AH: Quando começou a se interessar por
quadrinhos?
DV: Leio quadrinhos desde garoto, ainda me lembro do Capitão América
número dois.
Como toda criança, pintei, rasguei a capa e por pouco não recortei as
figurinhas.
Mas acho que só percebi que gostava de HQ quando me senti culpado por ter
feito tudo isso.
AH: Ah, é? Putz! E depois de vencido o trauma, o
que passastes a ler?
DV: Tudo que tinha desenhos e balões. Sinceramente, adorava
o Demolidor.
Minha primeira coleção foi Conan mas também curtia Disney e a Turma da Mônica.
AH: Dentro do campo profissional das HQs, pode-se
fazer muita coisa: ser editor, roteirista, desenhista, arte-finalista,
colorista, letrista... disso, o que mais te atrai?
DV: Comecei querendo ser desenhista ou animador. Hoje sei a
importância de todas as etapas, por exemplo:
Sei que um bom arte-finalista pode salvar um desenho médio e que um
desenhista ótimo num texto fraco não salva uma HQ.
O que mais me atrai? Criar, sem dúvida nenhuma. Passar uma história ou uma
idéia da minha cabeça para o papel.
AH: Mas já experimentasses um pouco disso tudo,
ou não? Pelo menos a maioria dos fanzineiros já... tu começou com fanzines?
|
DV: Acho que já fiz de tudo um pouco nos quadrinhos...A
primeira vez que publiquei foi na revista "Mafagáfos", ficou um
lixo, mas eu adorei. Na Faculdade eu criei em conjunto com o João Prado
(Art&Comics) e com o Eduardo Hermann o "Embrião", um
fanzine para os nossos personagens. Foi uma época muito divertida, faria tudo
novamente.
Fizemos um certo barulho até que um professor da faculdade editou a nossa
revista: "Ícones". Nesta época o grupo já tinha
mudado: éramos em 5 ( João Prado, Grabriel Bá, Fábio Moon,
Thiago Micalopulos e eu) e publicamos 3 números. A parte triste é que
o grupo se separou antes de terminarmos as histórias iniciadas nesta publicação.
Talvez dia a gente se junte para
publicar os outros 2 números programados.
|
AH: Time bom, hein? Mas os gêmeos Bá
e Moon alcançaram um ótimo prestígio com o zine "10
Pãezinhos". Pretendes contratá-los algum dia?
DV: Como você bem disse, eles são bons e já fizeram sua história
na HQ brasileira. A única forma que vejo isto acontecer, seria como parceria.
Atualmente os gêmeos estão desenvolvendo ótimos trabalhos para outras
editora e me parecem estar muito bem com a Via Lettera, mas acredito que um
dia vamos nos reunir para lançar algo em conjunto.
AH: O que pensas dos zines brasileiros?
DV: Sinceramente, adoro ou adorava (hoje eles estão
sumindo!) zines, são os mais criativos. É o lugar sem editor, sem regras,
sem medo. Leio histórias muito boas em zines.
AH: Podes citar algum(s) que tenha te chamado
atenção ultimamente?
DV: Tem um chamado "ARGHHHHH", que eu acho bem
divertido. Gosto do "Manicomics". São tantos!!! Ou melhor eram
tantos...
Parece que o pessoal anda meio desanimado, faz tempo que não vejo coisa nova.
A tecnologia veio para ajudar, hoje vários grupos tem scanners, computadores
e impressoras. Não entendo porque a produção caiu.
AH: Agora vamos nos voltar ao cenário das HQs
profissionais: Quando foi que tu entrou nessa e como se deu isso?
DV: Profissionalmente comecei como ilustrador de uma coluna no jornal
"Notícias Populares". Foi meu primeiro emprego e minha maior experiência
profissional.
AH: Fala um pouco mais sobre cada experiência.
DV: Já fiz de tudo na área gráfica e o que mais aprendi
foi respeitar o público leitor. Parece que quanto maior o número de
leitores, pior é o tratamento que as editoras dão.
AH: Mas estes não eram projetos teus. O
que te fez querer investir numa própria editora?
DV: Na verdade sempre procurei uma empresa criativa, dinâmica,
que oferecesse oportunidade para desenvolver minhas idéias e, principalmente,
durante 8 anos procurei uma "filosofia profissional" ou, como
chamamos, uma "linha editorial". Não encontrei. Pedi demissão do
meu último emprego para lutar por algo que acreditava.
AH: Muitos falam que o mercado de
quadrinhos no Brasil tá sempre em uma constante crise, que não tem como
reverter este quadro, que as grandes editoras não voltam seus olhos pro que
acontece por aqui... ainda assim estão surgindo muitas editoras por
aqui, como é o caso da Opera Graphica e da Marca de Fantasia,
isso sem falar nas virtuais... Isso significa que o mercado brasileiro vale a
pena?
DV: Eu acredito no mercado brasileiro. Crise? Não podemos
nos moldar aos outros mercados. Existem países onde se vendem milhões de
exemplares e outros que nunca viram uma HQ.
O Brasil vai bem, obrigado! Respeite o público leitor, não tenha medo de ser
criativo e diferenciado, ofereça oportunidades e o mercado muda, os leitores
mudam. Tenho certeza que não verei em vida muitas das mudanças que sonho,
mas a Editora Vardi fará parte desse processo. Chega de publicar títulos
de outros países, sem investir nos nossos talentos. Quando um Batman ou
Homem-Aranha é editado em português, ele já vendeu seus dólares no resto
do mundo. Os artistas já foram pagos, bem como os editores e a gráfica. O
material chega limpo, via FTP só para a editora fazer a tradução. É CLARO
que é mais barato, mas as editora deveriam investir "essa diferença"
nos talentos brasileiros. Também vamos publicar material de outros países
,estamos em contatos com grupo de artistas amadores na Europa, mas o nossa
linha nunca vai mudar: primeiro o artista nacional, depois os outros.
AH: Como deves saber, não faz muito tempo, a Editora
Escala lançou o projeto "Graphic Talents" que, apesar do nome,
só publicava material nacional, dedicando cada edição a um artista
diferente e, o que era mais interessante, dava espaço a nomes relativamente
novos mas, mesmo assim, não conseguiu vingar. O editor do projeto, o Dário
Chaves, me disse por e-mail que o cancelamento se deu pelas baixas vendas.
Qual lição dá pra tirar daí?
DV: Gostava muito dessa série, quando lancei a revista
"Comics Generation" pela Escala conversava durante horas como o Hercílio
(o presidente da editora Escala). Sei que ele sempre quis investir em
quadrinhos brasileiros mas, como competir com um Capitão América? um
Demolidor? um Mickey? um Batman? Eles não são revistas são marcas,
produtos, brinquedos e filmes.
O importante é nunca desistir. O Dario é um lutador, sei que ele vai
voltar, está no sangue!
AH: A Editora Vardi vai publicar material
impresso. Como pretendes fazer isso?
DV: Sim, começamos tímidos, com uma publicação erótica
chamada PINK! e o resultado foi melhor do que o esperado. Ano que vem, teremos
um veículo novo, impresso, que servirá como vitrine para todos os artistas
brasileiros. Vamos também publicar algumas histórias fechadas. Estamos
preparando várias coisas para 2004.
AH: Qual será a tua metodologia de trabalho,
vais trabalhar só com personagens da editora, ou também vais abrir espaço para
as produções de outros quadrinhistas?
DV: Vocês estão vendo em primeira mão a nova versão do
Amanhecer. Quero publicar histórias de super-heróis no Brasil.
Quem quiser participar será bem-vindo. Estamos prontos para lançar outros
personagens e ajudar os novos artistas.
Tem muita gente que não quer mandar suas criações porque ainda não estão
registradas. Um dica: registrem na biblioteca nacional, é mais barato. Depois
é só procurar a editora certa para você. Escolha bem, procure se informar
com as pessoas que trabalham lá e principalmente converse com o editor. A
Editora Vardi está aberta para novas idéias.
Amanhecer
- super-herói e carro-chefe da editora. Para saber um pouco mais sobre
ele, tecle aqui.
AH: Tô gostando de ver! Parece que tu tá
pretendendo mesmo investir nos quadrinhistas nacionais!
DV: Como disse, este é o meu sonho. A Editora Vardi só
existe para abrir espaços para o talento nacional. Quando deixar de fazer
isso, mudo o nome da Editora.
AH: Como os quadrinhistas entram em contato com a
ed. Vardi? Há alguma especificação em relação a isto, tipo mandar
curriculum e portfolio?
DV: Enviem por internet para editoravardi@uol.com.br,
com os dados completos ( nome, idade, endereço, formação, trabalhos
publicados, etc).
Publicaremos
apenas 1 trabalho por artista em cada edição. Podem mandar tirinha, charge e
história em quadrinhos mas apenas um trabalho por mês será selecionado:
Tirinha: No
formato 15,3 cm de largura x 4,3 cm de altura, colorida ou preto e branco em
300 dpi.
Charge: Charge
ou caricatura no formato 10 cm x 10 cm, colorida ou preto e branco em 300 dpi.
Histórias
em Quadrinhos: HQs de 1 página de 12,5 cm de largura x 16,3 cm
altura, colorida ou preto e branco em 300 dpi.
Os
interessados também podem enviar seus trabalhos para:
EDITORA
VARDI LTDA - Caixa Postal 11.550 - CEP 05049-970 - São Paulo - SP
AH:
E na parte financeira, vai rolar pagamento, ou no início todos terão que
encarar como um investimento? Como vai ser isso?
DV: São duas etapas para vários projetos: Primeiramente, vamos
lançar em janeiro um veículo para apresentar artistas, projetos, personagens
e conceitos. Nesta fase publicaremos todo material que recebermos, com o mínimo
de edição. Os artistas devem encarar como parceria: a Editora Vardi entra
com a publicação e o espaço e os artistas entram com o trabalho. Estamos
fazendo alguns cálculos para lançar este veículo Grátis. Vai ser uma
publicação multidirecional, com a participação ativa dos leitores. Eles vão
escolher as melhores histórias, os personagens mais interessantes.
Vamos aproveitar o veículo para testar o mercado. A segunda etapa é a
publicação de uma edição especial com o artista escolhido pelo público e
pela editora. Quando o artista chegar nesta fase faremos uma reunião para
discutir o aspecto financeiro. Já temos alguns lançamentos especiais
programados para 2004. Aguardem!
AH: Pra quando tá previsto o lançamento da
primeira edição? E qual será o formato? Será toda em cores? E a
periodicidade?
DV: Dia 15 de janeiro de 2004 apresentaremos nossos produtos.
Por enquanto, é tudo que posso dizer.
Desejo um bom natal e um ótimo ano novo.